O
tema “Nico” não era tabu para ninguém na minha vida. Aliás toda a felicidade
que ele espalhava na minha vida era motivo suficiente para todos os que fazia
parte dela saber que conheci um dos homens da minha vida, era mais que meu
namorado, eu queria que fizesse parte da minha vida para sempre… E o casamento
é a promessa de amor eternamente, não até á minha morte de corpo, mas, até a
minha alma morrer e eu acredito que essa é eterna. E eu amava-o, e esperava que
fosse o suficiente para ficarmos juntos, mas depois do que fiz, não sei o que
pensar. Eu já tinha imaginado o nosso futuro, juntos. Casados pelo registo
civil em Portugal e pela igreja na Argentina, porque assim tínhamos passado
momentos inesquecíveis nos nossos países de origem, e porque ambos somos
católicos. E filhos, era algo tão bom, algo que tinha pensado, desejado e
idealizado e só de pensar que o tema de zanga com o Nico tinha sido bebés
tornava-se ainda pior! Como é que tinha sido tão infantil! Como?! Será que era
um pré-aviso que não estava preparada para me casar? Apesar de namorarmos há
menos de 3 meses, de termos alguns anos de diferença e de apenas ter 18 anos,
isso não significava nada para mim. Mas eu, claro que tinha dúvidas e receios
mas eu amava-o o suficiente para fazer esta enorme prova de amor. E mais tarde
termos os nossos filhos, muitos de preferência… Meninos e meninas, embora eu
desde sempre tenha um gosto especial por rapazes e que saiam ao pai, e até
tinha pensado em nomes para o nosso primeiro filho, como não tínhamos chegado a
conclusão nenhuma, se o nome seria em português ou em espanhol, optamos por um
neutro, e o escolhido era Jonathan. E depois do nascimento do primeiro, termos
mais filhos, quem sabe talvez 3 ou 4, dependeria apenas de nós, da nossa vida,
das nossas decisões. E mais tarde vermos os nossos filhos a casarem-se, depois
sermos avós e quem sabe, bisavós. Mas acabei por responder embora o tema da
conversa não me agradasse:
-Caso não tenhas entendido aquelas
palavras foram ditas em tom sarcástico e nunca será do senso comum. Porque o
que eu faço na minha cama apenas diz respeito a mim e á pessoa que está comigo.
Se te faz mal feliz eu digo-te a verdade, fi-lo com o Nico, e não me arrependo,
sabes porquê? Porque ele é um dos homens da minha vida. – Disse gritando. O meu pai que entretanto se havia
aproximado de nós e o meu irmão que já havia acabado o treino. Aproximaram-se e,
sem eu entender bem ouviram a minha resposta. Ficaram todos pasmados a olhar
para mim, era natural responder mal e ser “torta” mas daí a responder assim era
uma longa distância. A pressão que depositei sobre mim mesma era enorme, acabei
por descarregar sobre outras pessoas que também amo. E eles não tinham culpa
nenhuma mas eu não iria dar a minha parte fraca. A minha mãe respondeu num tom
ameaçador:
-Aleluia! És mulherzinha para umas
coisas mas para outra não. Ele dorme contigo é verdade mas esqueceste-te de
algo muito importante, eu sou tua mãe e deves-me satisfações e respeito. Só por
ele se ter deixado neste estado não significada que agora nós, tua família,
sejamos sapos. - Estava certa
mais uma vez. – E se ele é assim tão
encantador porque é que voltas outra vez para junto dele e nos voltas a
esquecer como aconteceu desde que o conheceste? – Não gostei do tom
ameaçador. Parecia que estava a insinuar algo mais, talvez não gostasse do
facto de me ter envolvido com ele a tamanho nível, mas era algo que apenas
dizia respeito a nós, nunca lhes pedi nada. Aliás a minha mãe só o soube porque
insistiu comigo. Se tivesse grávida aí sim teria motivos suficientes para levar
uma reprenda por “irresponsabilidade” ou “falta de atenção”, mas não, aliás estávamos
chateados devido a histórias com bebés. E logo eu que desde sempre pensei e
quis ter muitos filhos. Mas quem sabe se não é apenas uma prova de amor que
temos de ultrapassar? Já não é a primeira e decerto não será a última mas
juntos tudo iriamos ultrapassar.
(Recordação)
-Nico, Nico. – Disse eu enquanto punha a
mesa para almoçarmos e ele preparava o almoço, eramos só nós a almoçar, mais
uma vez. Ele olhou-me e sorriu, era atraente de qualquer maneira, quer a sorrir
quer a cozinhar ou mesmo a mimar-me. – Amor,
como será quando conhecer a tua família?
-Não sei mas posso fazer uma
pequena previsão… Vão adorar-te! – Corei.
E sorrimos cumplicemente, dava-me ainda mais confiança saber que ele julgava
que a sua família me adorava. – Mas não
tanto como eu te amo. – Aproximou-se de mim e beijou-me. Sentou-me na
bancada e um beijo inocente tornou-se numa série de beijos sentidos e
românticos, ofegantes e só acabaram quando nos lembramos do almoço e enquanto
ele terminava eu brincava com ele.
-E como é que eu sei que me amas? –
Disse colocando-me atrás dele e
dando beijinhos no pescoço e ele apenas tentava concentrar-se em tentar fazer o
almoço junto do fogão.
-Sabendo… Mas se quiseres eu
provo-te. – Virou-se contra o meu
corpo e agarrou-me pelo fundo das costas, puxou-me contra o seu corpo e
beijou-me. Saltei para o seu colo e ele sentou-se numa cadeira e pus-me no seu
colo, a minha cabeça estava encostada ao seu ombro/pescoço, sentia o seu
perfume entranhar-se nas minhas narinas e fazia questão de inspirar bem fundo para
aquele perfume entranhar-se em mim, cada pormenor seu fazia-me suspirar. Fechei
os olhos e ele fechou também, inspirou bem fundo, senti-o. E disse-me:
-Não quero dizer o quanto te amo
com palavras, quero provar-te com atitudes. – Agarrei na sua camisola e fiz força. Amava-o, amava
cada faceta sua, amava o seu lado romântico, amava o seu sorriso, a sua maneira
de ser. A forma como eu o amava. –
Quando chegar a altura perfeita vou provar-te acredita em mim. – Acreditava
em cada palavra que ele me dizia, mesmo que toda a gente me dissesse que era o
maior disparate do mundo. Eu acreditaria, até sempre. Mesmo se a vida provasse
o contrário.
-Desculpa… - Disse chorando. – Desculpa por te magoar. – Ele estava preocupado comigo, a sua
respiração já estava descompensada. Estava preocupado comigo. – Desculpa não ser a mulher dos teus
sonhos. – Deixei as lágrimas escorrerem pela minha face. Levantei a mão
direita, era um gesto para que tudo permanecesse assim, não queria que o Nico
limpasse as minhas lágrimas queria que as deixasse escorrer. Queria libertar
toda a minha essência por ele. – Desculpa
por não te conseguir demonstrar o quão importante és para mim. Desculpa não te conseguir amar-te como
mereces. Desculpa por não conseguir ser a mulher e a namorada que queres e
mereces. Mas prometo que farei tudo para te amar até não conseguir mais e que
lutarei por ti até não ter mais forças! Mas o meu amor por ti é mais forte e
vai ultrapassar tudo… - Limpei as lágrimas e encostei ainda mais a minha
cabeça ao seu peito e coloquei lá a mão. -
Amo-te muito meu Osvaldo lindo. – Ele sorriu. E beijamo-nos. Adorava
provoca-lo quando chamava por aquele nome que era seu mas não era tão
conhecido, ele continuava sem saber qual era o meu primeiro nome e não lhe iria
revelar, iria ser uma surpresa até ao dia do nosso casamento.
(Fim de Recordação)
A
discussão acabou por enquanto naquele local. Fomos até nossa casa, aquela que
havia visitado há pouco mas durante tanto tempo tinha ficado esquecido e
distante de mim. Apenas o visitava quando o Benfica jogava fora, e para não
ficar sozinha em casa do Nico e para matar saudades da minha família voltava ao
que era antes de o conhecer. A faculdade não a visitava há imenso tempo, o
curso nunca me entusiasmou e preferi entregar todas as minhas energias ao meu
namorado.
Jantamos
no maior silêncio do mundo, nem a televisão ligamos, tínhamos a tradição de a
ligar e comentar as notícias que passavam na televisão, mas hoje tudo estava
diferente, podia dizer que eu estava diferente. Por causa do que se havia
passado com o Nico mas não era só, aquilo que fiz fez-me pensar na vida. Será
que o havia perdido? Eu… Eu não queria! Mesmo se ele precisasse de tempo e
espaço eu não desistiria, eu lutaria até que ele me dissesse que já não havia
mais, eu lutaria até a esperança e a coragem dele de me olhar olhos nos olhos e
dizer: “Já não te amo”, aí sim eu deixava de lutar, choraria dias a fim e a
partir desse momento eu prometia a mim mesma não mais amar, mas como eu não
duvido que existem amores para a vida, e acredito que nos amamos de forma
sobrenatural, não conseguiria esquecer, pelo menos pensava eu. E era apenas uma
questão de tempo para tudo voltar atrás. Eu estava arrependida, super
arrependida, sofria de tamanha dor mas escondia-o. O meu pai disse-me enquanto
comíamos:
-Então tu e ele? – Estava sentada ao lado do meu pai e fiquei sem
reação possível. Fiquei pálida e nada respondi. Engoli em seco. Não sabia mesmo
o que responder, se era difícil a minha mãe confrontar-me com isto, então o meu
pai era algo… Que me provocava medo!
-É assim tão difícil aceitarem que eu e o
Nico tivemos sexo! Aliás sexo é a palavra errada, nós fizemos amor! – Levantei-me
da mesa e olhei para os 3, sim porque o meu irmão também estava na conversa,
sentia tudo e tudo aquilo me enervava, o meu irmão era mesmo a pessoa que
melhor me conhecia no mundo. Eu amava o Nico e tínhamos feito amor qual era a
dificuldade em aceitar este facto? – Eu
e o meu noivo Osvaldo Nicolás Fabián Gaitán envolvemo-nos e daí? – Senti
mais uma vez os olhos postos em mim, mas era de uma forma diferente, senti que
até os pássaros que até então cantavam se haviam calado e agora me olhavam
surpreendidos. O meu pai a muito custo lá me respondeu, embora a gaguejar:
-Tu, tu… -Levantou-se calmamente da cadeira. – Estás noiva? – Abriu a boca e olhou-me.
Temi-o, pela primeira vez desde que era pequena senti-me tremer de medo, não
era receio, era medo e fez-me ter uma diferente visão da vida. Naquele curto
espaço de tempo consegui visualizar muito em tão pouco. Eu estava noiva… Eu
aceitei casar com ele, isso significava que me iria casar e ter um compromisso
para a vida, isso faria unir-nos eternamente. Será que estaria preparada? Não
sei, acho que é algo que nunca podemos dizer que estamos 100% preparados mas eu
estava certa que tinha encontrado o homem perfeito. E imaginava casar-me com
ele, vestida de branco num dia perfeito, independentemente do local e das
pessoas que assistiam o mais importante era mesmo nós, o nosso compromisso e o
nosso amor. Eterno!
-Sim, o Nico pediu-me em casamento
e vamos casar-nos, quer queiram quer não sabem porquê? Sou maior de idade e
faço o que quiser, quando quiser. – Limpei
as lágrimas de dor, medo, receio, de luta, de ódio, de raiva que me havia
escorrido pela face.
-Nem ia opinar… Já estava a espera
até. Quero apenas o teu melhor e a tua felicidade e é junto dele que tu a tens.
– Disse a minha mãe
carinhosamente. O meu pai olhou-me furioso, não ficou sentido com o que a minha
mãe lhe dissera e que eu mencionara apaixonadamente. Aliás acho que só se
centrou no que havia dito sem pensar:
-Se não estás bem muda-te de casa,
quero ver-te a arranjar uma pessoa que te ame tanto como eu e a tua mãe e a
dar-te tudo o que te damos. – Voltei
costas e fui direita ao meu quarto, arrumei toda a roupa que tinha dentro de
malas. Tranquei a porta e não deixei ninguém entrar, por muitas tentativas, nem
as palavras mais tocantes me convenciam, estava decidida. Arrumei várias
roupas, algumas recordações e o que precisava para me despedir daquela casa que
fez parte da minha vida nos anos de existência que tenho. Já tinha tudo o que
significava para mim. Apesar do prédio ser num local alto eu iria saltá-lo, mas
primeiro escrevi uma carta:
“Pode ser uma atitude infantil, uma
atitude que prove que não sou matura o suficiente mas olhem eu não estou bem e
não quero que os meus familiares sofram por uma luta que é minha e só minha.
Não tentei esconder-vos nada, simplesmente não o consigo assumir em voz alta.
Não fugi de casa nem nada disso simplesmente fui á procura de outro local onde
me consiga sentir bem e encontrar a minha paz, sem magoar ninguém que amo. Por
favor não liguem ao Nico nem o preocupem, ele não merece e vocês também não.
Vou á procura da minha paz interior, já cancelei o meu curso na faculdade, não
é o que quero. Neste momento o que preciso é de tempo, espaço, música e
escrever e se não for pedir muito: motivos para sorrir. Eu amo-vos muito, a
todos. A ti meu pai, que me ensinaste tudo o que sei, a ti minha mãe, que eu
amo e mais que uma mãe é uma conselheira e amiga, ao meu irmão que é mais que
um irmão de sangue, um amigo e um dos homens da minha vida, a minha prima Qeu,
embora também não esteja a passar uma fase boa eu sei que vai ultrapassar tudo
e ser feliz, e mais não digo que não posso. A madrinha (mãe da Qeu) e a avó
porque foram tudo o que precisava e amava, foram umas segundas mães. Ao Nicolás
que mais que uma amizade, um amor, um dos homens da minha vida e que apenas
digo lamento.
Não se preocupem comigo porque eu
ficarei bem, e prometo que volto mas por favor não me esqueçam, eu amo-vos demasiado.
Podem contactar-me mas peço apenas tempo e espaço tentem compreender e não
julguem. Eu garanto-vos que vos amo muito! Beijinhos Rita! “
Enquanto escrevi a carta as lágrimas caiam pela
minha face. Dei um beijo na carta e despedi-me daquele quarto… Iria ter
saudades, saltei pela janela e fugi, era uma atitude cobarde mas estava
disposta a lidar com as consequências, talvez fosse irresponsável mas
parecia-me a melhor atitude. O salto foi mal calculado porque assim que pousei
no chão senti-o dobrar. Uma dor atormentou-me. Uma dor arrepiante. Nunca antes
a havia sentido. Mas fui forte, aguentei e depois de caminhar a coxear cheguei
até uma paragem de táxis, apanhei um até junto de casa do Nico, onde estava o
meu carro. No caminho liguei á Maria, precisava de falar com alguém. Ela
atendeu o telefone e trocamos dois dedos de conversa, foi tudo o que precisei
para me sentir melhor. Ficou combinado ir até ao Porto passar uns dias. Talvez
seja disso mesmo que preciso de uma lufada de ar fresco! O taxista levou-me até
ao meu carro onde acabei por pernoitar mas em frente a casa do Nico, adormeci a
chorar, o quanto eu o amava e desejava estar junto a ele pelo menos mais uma
vez. Com as dores insuportáveis que tinha no meu pé não estava em condições de
conduzir, por isso peguei no meu portátil e comprei uma viagem de comboio até á
bonita cidade do Porto. Partia cedo por isso decidi arriscar e cometer uma
espécie de loucura, era mesmo dia para tal… Conduzi até á estação de comboios e
dormi no carro pus o despertador para não me atrasar para a viagem e avisei a
Maria da viagem. Mandei ainda uma mensagem á Qeu, não queria que ela se
preocupasse comigo e se algo me acontecesse 2 pessoas sabiam o que se passava
comigo. Acordei no dia seguinte com o despertador, deixei o carro estacionado
num local escondido, iria lá ficar durante uns tempos. Apanhei o comboio e
reencontrei a Maria, tinha imensas saudades dela.
(Passado
alguns dias)
O
sentimento em relação ao Nico permanecia o mesmo, uma dor inflamava fortemente
no meu coração, eu amava-o, mas aquele tempo e espaço tinha-me feito pensar. Não
havia um sentimento tão puro, tão bonito, tão incrível como o amor e para
demonstrar no meu corpo que quando assumimos um compromisso é eterno tatuei o
símbolo do infinito no dedo anelar na mão esquerda. Estava noiva, mas não usava
aliança. Queria fazer na parte de cima do dedo, mas o tatuador aconselhou-me a
fazer na parte lateral, seria mais tarde meio tapada pela aliança de noivado ou
de casamento. Havia algo mais puro e eterno que o amor? Eu acreditava que não e
aquele símbolo era uma prova de amor para com o amor, para com o compromisso,
para com as promessas de amor, para com o Nico… Apesar de simples era uma
tatuagem bonita e com muito significado e simbolismo, iria demonstrá-lo ao meu
futuro marido, ao meu atual noivo. Era ele que havia feito diferenças na minha
vida notórias, fazia-me acreditar, prometer, viver, amar, fazia-me ser feliz!
Aquela
distância, aquele ambiente diferente, aquela cidade, deram-me inspiração para
escrever, as saudades de todos aqueles que amava eram totalmente destrutivas
mas faziam-me pensar e melhorar muito, enquanto mulher e pessoa, apesar de só
terem sido algumas horas. Escrevi o meu primeiro poema, chamei-lhe: “Por Ti”,
falava do amor que nutria pelo Nico.
Por ti chorava dizendo: “Ele é parte de mim!”
Por ti cantava assim: “Vou amar-te eternamente!”
Nunca me deixes, pois foi em ti que pensei neste poema!
Vamos viver, vamos caminhar em conjunto com um objetivo…
Nunca duvides que sempre lutarei para te ter ao meu lado!”
(Apenas publicarei um excerto do poema, desculpem por isso. Mas é o primeiro poema que alguma vez escrevi e prefiro não o editar todo por agora, quem sabe não editarei no futuro, para vocês. Mas também tenho medo por causa dos direitos de autor… Tem 4 anos)
Fui
também com a Maria ao hospital, tenho uma fratura do maléolo medial, resultado próximas 6 semanas serão
passadas de gesso no pé esquerdo e muletas. Mas por sorte… Não serei sujeita a
cirurgia, as dores ainda me consumiam mas tentava esconde-las até porque hoje
era o dia de ir ao estádio ver o clássico com o Benfica. A Maria surpreendeu-me
e deu os bilhetes. Fiquei radiante… Embora não pudesse passear muito devido á
minha condição sempre podia ver o jogo no estádio, um jogo desta dimensão, mas
havia imensos cuidados a ter, prometi a mim mesma e á Maria que os teria. As
muletas não era grande apoio mas tive de aprender a lidar com elas.
Levei um cachecol do Benfica escondido, não era vergonha,
simplesmente não queria que me magoassem ainda mais do que já estava, em todos
os sentidos, tanto a nível psicológico como físico. Não tirava o Nico da minha
cabeça por um único segundo e a dor era destrutiva, eu amava-o e não tencionava
perdê-lo mas queria dar-lhe o espaço que precisava. Falei com os meus pais e
esclareci tudo, apenas não lhes disse como estava o meu pé e que iria ver o
jogo ao estádio, disse-lhes onde estava mas fi-los prometer que não me
visitariam e que estava para breve o meu regresso a Lisboa, embora me sentisse
muito bem no Porto, não queria preocupá-los desnecessariamente.
Visitei o estádio e fiquei num local até simples e não muito
movimentado, por sorte a Maria ofereceu-me os bilhetes (foi querida, aliás
super querida, disse que era mais um motivo para me animar) e lá fomos nós.
O
jogo acabou empatado 2-2, mas até nem era um mau resultado, porque os últimos
no Dragão foram negativos para o nosso lado. Sentia-me feliz, talvez fosse um
pouco da lufada de ar fresco que o jogo me dera, e rever o Nico, tão próximo de
mim. Por sorte ele não me viu mas eu fiz questão de o ver durante todo o jogo e
este momento marcou-me completamente:
O
jogo acabou e a Maria insistiu para que nos fossemos embora mas eu não queria
ir pelo menos até falar com ele, nem que fosse dar um beijo ou dizer o quanto o
amava. Por isso graças á Maria (admito que tivemos de usar o fato de ela ser
namorada do James) consegui ir até junto dos balneários, ou melhor do local
entre o autocarro e os balneários para falar com o meu noivo e lhe dizer. Podia
ter mentido e inventar mil desculpas para estar com ele junto á Maria, mas não…
Preferi usar a verdade e apenas a verdade e claro as muletas deram uma pequena
(grande) ajuda. A Maria deixou-me a sós junto aos balneários e foi ter com o
James. Senti-me uma sortuda por todos os motivos, naquele momento a dor do pé,
já não era tanta, aliás estava menor, parecia que havia desaparecido… Agora o
que me doía era o peito, de nervoso, de medo, queria rever o Nico mas e se
corresse mal? E se ele não gostasse da surpresa? Valeria a pena? Por ele tudo
valeria a pena !!! Tentei esconder-me só em busca de surpreender o Nico e
ninguém mais mas quem acaba surpreendida sou eu… O primeiro a sair do balneário
foi o Ezequiel e viu-me, a sua primeira preocupação foi a minha perna mas eu
descansei-o, trocamos dois dedos de conversa tanto em relação ao que se havia
passado com o Nico como em relação á Que e ao filho dele. Acabou por chamou o
meu noivo mas não lhe disse que era para falar comigo, os restantes colegas
ainda demoravam e ele devia falar com o Jorge Jesus, tanto para lhe dar os
parabéns pelo golo como falar pela equipa toda pelo resultado e incentivá-los a
mais. Mas prometeu-me que distrai-a o mister e os colegas o tempo suficiente
para falar com ele e tentarmos esclarecer tudo. O Ezequiel não compreendia a
minha atitude mas aceitava, sabia o que era gostar de alguém e não a ter ao seu
lado, também compreendia o lado do Nico, e preferiu não se manifestar, ouvi os
dois lados e deu apoio aos dois. Era um amigo nosso, um amigo meu e sabia que
podia contar com ele, apesar de tudo.
O
Nico apareceu pouco depois e fomos ambos surpreendidos por diversos motivos.
Tínhamos que falar mas será que aquele local e aquele dia eram os mais
indicados?
Como
correrá a conversa?
Porque
terão ficado surpreendidos? Será que vão ficar bem?